Entrevista: Shau Saturno (UESB FM) - 15/09/2023


O cantor e compositor jequieense Shau Saturno participa do programa "Tarde UESB" (UESB FM) em 15/09/2023.

Apresentação: Caique Santos
Produção: Yasmin Luene 
Coordenação de Programação: Jacqueline Silva

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Emilly Coelho: UESB FM (26/04/2024)


A cantora Emilly Coelho participa do programa "Tarde UESB" (UESB FM) em 26/04/2024.

Apresentação: Caique Santos
Produção: Yasmin Luene
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[2020] DESTROY MUSIC NOW ! # 26 - Entrevista com NEM TOSCO TODO da banda CAMA DE JORNAL


Hoje a entrevista é com o amigo Nem , vocalista da banda punk rock CAMA DE JORNAL da Vitória da Conquista , Bahia , banda antiga e muito atuante na cena local e nacional. Nem támbem escreceu um livro reentemente contando sobre sua vida e trajetória da banda. Acompanhe ai para conhecer melhor sobre ele e a banda.

Contato com o entrevistado:
toscotodo@hotmail.com


JOÃO PAULO, historiador: “A Axé Music cumpriu o papel de despolitizar a música baiana”

Por Fabio Sena

O historiador e pesquisador musical João Paulo Pereira é um fenômeno quando o assunto é dominar o conhecimento sobre música popular brasileira, mais ainda quando o assunto é música baiana, território no qual ele transita com absoluta maestria, citando, de cabeça, artistas, seus discos, anos de lançamento, os sucessos, os fracassos. Com a memória aguçada, típica de quem é verdadeiramente apaixonado pelo seu objeto de pesquisa – pois que antes de objeto de pesquisa, as músicas já integravam sua existência quase que como crença religiosa – João Paulo é capaz de dizer quais músicas compõem qual disco, quanto tempo de duração, os compositores e de qual lado do vinil estão as canções.

Poeta, figura risonha, de trato finíssimo e um extraordinário senso de bom humor, João Paulo é filho de Zé Baticabo, liderança carnavalesca com quem aprendeu a ouvir e cultivar a boa música brasileira. Nesta entrevista/conversa, ele faz um passeio histórico pela música baiana – para ele, aquela que nasce no início do século XX, com Xisto Bahia – e faz uma análise meticulosa sobre arte, cultura, mercado e indústria fonográfica. Sem compromisso com o politicamente correto, que teima em buscar expressões amenas para temas espinhosos, João Paulo não alisa quando costura críticas a certas músicas da moda.

“O Axé Music em minha opinião submeteu a música baiana a uma perspectiva meramente de mercado. A afrobaianidade típica da música baiana, como expressão cultural do estado, como um símbolo cultural do povo baiano, foi transmutada como um objeto de atração para mercado. O que a indústria fonográfica fez com a música da Bahia foi arrancar suas raízes e a enxertaram-na em um caule em processo de apodrecimento, tirando-a a sua vida, o seu coração. Os resultados disto estão aí para todos verem: temos hoje uma musicalidade empobrecida, de um mau gosto sem precedente histórico, com artistas horríveis, salvo raras exceções como Saulo Fernandes e o Jau; todo o restante é lugar comum”.

FÁBIO SENA: João Paulo, seria possível admitir a existência de uma Música Popular Baiana? Se sim, por quê?

JOÃO PAULO PEREIRA: No Brasil, é sempre possível afirmar que há uma música popular por estados da federação e/ou por regiões, em alguns casos. Mas, a diversidade cultural propiciou o nascimento de uma musicalidade específica ao menos regionalmente, isto é algo que a indústria cultural não conseguiu amalgamar neste país, apesar de ter conseguido uma homogeneização musical e cultural, mas as especificidades estaduais e regionais se mantiveram, mesmo diante da pressão desta indústria cultural e da cultura de assas, principalmente se tratando de música ou musicalidade de nossa gente.

Podemos apontar o Carimbó e as Cirandas na região norte do país. As Catiras e as chulas na região Sul e Centro-Oeste, o Samba na Região Sudoeste e também em todo o país, já que o samba é um patrimônio nacional em seus vários estilos; o Frevo em Pernambuco. Na Bahia isto é marcante. A “música baiana”, até mesmo o “axé music”, guardaram a marca da afrobaianidade, algo que só tem na Bahia. Não que em outros estados ou regiões não haja influências africanas na musicalidade, já que quase toda a música americana é de origem africana. Mas a música baiana traz em si algo peculiar que são os tambores tipicamente originais da religiosidade de matriz africana no Brasil, que são os ritmos do Ijexá e do Afoxé. Esta característica, mesmo produzida a partir de fusões musicais, marca o surgimento de uma Música Popular Baiana.

FÁBIO SENA: Isso que se convencionou a chamar de Música Baiana nasceu onde, com quem, quando, por quê? É possível definir no tempo e no espaço?

JOÃO PAULO: Numa perspectiva histórica, e possível afirmar que a Música Baiana nasce no exato momento em que os primeiros negros chegaram ao Brasil, à Bahia. Os povos negros trazidos compulsoriamente para a escravização no Brasil não trouxeram só seus corpos para serem escravizados, não trouxeram só a dor de terem sido tirados de sua terra natal, não trouxeram só a tristeza de terem suas liberdades castradas. Trouxeram também suas culturas, sua dança, sua música, suas tradições, suas religiosidades, seus desejos de voltarem a ser livres. É nesta perspectiva que nasce a forte influência africana em quase tudo no continente americano. É nesta perspectiva que nasce a música baiana. Então se tivéssemos que datar o nascimento da música teríamos que atribuir esta determinação histórica. Mas, o que se tem de pesquisa sobre a produção musical na Bahia é que a primeira música gravada no Brasil foi uma produção de artistas baianos, da região de Santo Amaro da Purificação, uma composição de Xisto Bahia, gravada em 1902 em rotação 78, feita por gravidade por uma cantor conhecido por Baiano e uma canção que foi intitulada de “Isso é que é bom”. Diferente do que se tocava no restante do país, esta canção não era um “Maxixe”; tinha uma rítmica africana, o “Lundu”, ritmo que alguns musicistas consideram a matriz do Samba. Mas, há quem questione isto também, atribuindo ao maxixe a origem do samba. Seja como for, o Lundu também influencia o maxixe. A partir desta primeira produção muitos artistas baianos passam a fazer parte da cena musical brasileira, conservando sempre a diferença marcante do diálogo entre música baiana e a religiosidade afro baiana.

FÁBIO SENA: Na sua visão, quem seria o pai ou mãe desta expressão cultural e literária na música baiana?

JOÃO PAULO: Esta é uma questão muito relativa. Se formos levar em conta a música baiana numa perspectiva histórica, podíamos afirmar que os negros Yorubás ou Bantos assumiriam a filiação desta expressão cultural na Bahia. Mas, trazendo para o campo da musicalidade apenas, aí teremos um pai ou uma mãe para cada momento da música baiana. Primeiro os artistas Xisto Bahia e Baiano, que inauguraram e imprimiram a afrobaianidade na música brasileira. Trazendo para mais perto teremos aí a presença de Dorival Caymmi nos anos 1940, que impõe características peculiares a música produzida na Bahia. Dodô e Osmar que foram criadores e inventores de uma sonoridade típica da Bahia, mesmo tocando o “Frevo”, que originalmente é pernambucano, mas ganhou uma estrutura rítmica baiana, com a introdução da guitarra baiana. Mesmo não sendo o único ou o primeiro a produzir o estilo, mas não dá para preterir a influência de João Gilberto para a Bossa Nova, apesar de ter sido o Maestro Tom Jobim o grande idealizador. Mas João Gilberto tem forte influência na fusão rítmica, do samba brasileiro de matriz africana com o jazz norte-americano, também de matriz africana, que propiciou o nascimento da Bossa Nova. Depois temos o movimento Tropicalista, que apesar de não serem todos baianos, mas a estrutura musical, as fusões musicais, foram determinadas por artistas baianos, como Tom Zé, Caetano Veloso e Gilberto Gil, os alicerces musicais do movimento. Só ressaltando que o tropicalismo fundiu com brilhantismo as músicas originárias da Bahia com o samba, com o frevo pernambucano e uma pitada do mais puro rock and roll dos anos 60 do século XX, numa relação dialógica com o movimento hippie. Eu particularmente considero que os Novos Baianos formaram uma segunda fase do Tropicalismo na música brasileira, e também são pais e mãe das musicalidade baiana. A partir dos Novos Baianos a música baiana ganha novos pais, sobretudo com a ascensão do carnaval de rua de Salvador. Neste momento, destaque para a Banda Armandinho e Trio Elétrico Dodô e Osmar e que foram os primeiros a colocar a música dos terreiros junto a arranjos de guitarra e contrabaixo, e o Trio Tapajós, as duas maiores atrações musicais do carnaval de Salvador até meados dos anos 70 do século XX; depois o Trio Elétrico dos Novos Baianos, que passaram à condição também de atração do carnaval soteropolitano. Até chegarmos à década de 1980 e no advento da música baiana com um caráter comercial e destinada em definitivo para o carnaval.

Na década de 1980, a música baiana ganha novos agentes e nova roupagem. Uma leva de grandes artistas começam a despontar. Jovens e talentosos artistas como Luiz Caldas, Sarajane, Gerônimo Santana, J. Morbeck, Laurinha Arantes, Ademar Furta Cor, Virgílio, Zé Honório, Carlos Neto, Carlos Pita, Margareth, Margareth Menezes, Lazzo Matumbi, Edson Gomes, Norberto, Carlinhos Caldas, Marcionílio, Zé Paulo, Ricardo Chaves, Missinho, Bell (Chiclete com Banana), Silvinha Torres, Márcia Freire, Cheiro de Amor, Banda Beijo, Banda Tiete Vips, entre outros, passam a fazer parte da grande festa que se tornou a música baiana, junto a grandes nomes como Novos Baianos. Neste ponto preciso nominar estes que em minha humilde opinião de quem gosta de música, mas tem pouco conhecimento técnico, foi a melhor banda que a música mundial já viu nascer e que certamente não produzirá nada no mesmo nível falando de bandas: Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Papeu Gomes, Didi Gomes, Jorginho Gomes, Baby Consuelo, Luís Galvão… depois passou a fazer parte da banda Dadi, Mu e Armandino. O Trio Elétrico Dodô e Osmar, o Trio Elétrico Tapajós. A partir deste momento a música baiana ganha uma variedade muito grande de ritmos e estilos, sem perder sua característica fundamental que é afrobaianidade.

Neste momento não há como não destacar o papel fundamental de Luiz Caldas, que foi o responsável direto pela fusão da música das casas de candomblé, o Ijexá e o Afoxé, típico dos blocos afros de Salvador, com a música caribenha e lançar um novo ritmo que ele mesmo chamou de “Fricote”, ficando conhecido como o “pai do Axé”. Mas, neste primeiro momento, são inegáveis as contribuições de Gerônimo, Sarajane, considerada a “Rainha do Axé”, Chiclete com Banana, com destaque para Missinho, que era o coração e o cérebro da banda, entre outros nomes.

FÁBIO SENA: Que transformações sofreu a música baiana, em termos de estilo, de letras, de proposta de mundo? O que melhorou, o que piorou?

JOÃO PAULO: A produção musical está diretamente ligada aos aspectos históricos, socioeconômicos, culturais, também exerce grande influência o lugar de fala dos compositores, a inserção social de quem está compondo é fundamental para definirmos o produto final. Nesta perspectiva, a música baiana sofreu sim muitas mudanças desde 1902. A canção “Isso é que é bom”, de Xisto Bahia, tem um tom satírico, afinal foi composta e cantada por figuras populares, oriundas do teatro, no início de um novo século e certamente havia em perspectiva a negação dos valores vistos como conservadores do século XIX, os artistas e a arte sempre sensível e suscetível a estas mudanças certamente tinham a intencionalidade de ruptura com o antigo. Mas, vou me prender a música baiana a partir dos anos 60 do século XX, momento histórico em que artistas baianos começam a ganhar espaço mundial, só lembrando que a música de Dorival Caymmi também ganhou os palcos do mundo na voz de Carmem Miranda, mas é nos anos 60 que realmente estes espaços vão ampliando para a arte baiana de forma geral.

Inicialmente com João Gilberto, que produz uma musicalidade na maioria das vezes em parceria com outros artistas que não eram baianos, mas a Bossa Nova é o primeiro movimento estético que levou a música e a voz de um baiano para o cenário internacional. Concordando com José Ramos Tinhorão, uma musicalidade produzida para a classe média escolarizada, mas sem dúvidas uma música de muita qualidade, talvez com uma poesia questionável, em algumas canções até ingênuas, mas muito ricas em harmonias, melodias e arranjos muito bem construídos. Depois, mas ainda na década de 1960, surge o movimento estético “Tropicalismo”, que não atuou somente na música, teve ramificações no teatro, na televisão, no cinema, mas o grande destaque foi a música e os protagonistas de toda a musicalidade foram os baianos Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil e ainda Gal Costa.

Este movimento estético surgiu paralelamente a outros movimentos musicais de uma juventude que sonhava com a construção de um novo mundo, que superasse a ordem social capitalista, sonhavam com a utopia socialista; neste ínterim, no Brasil havia movimentos culturais estéticos com víeis vanguardistas e de esquerda, como o Teatro de Arena e a Comissão Popular de Cultura da UNE (União Nacional dos Estudantes), que produziam “arte engajada”. Entretanto, foram os tropicalistas que promoveram uma revolução estética musical, que influenciaram toda a musicalidade brasileira desde então. Militantes do Teatro de Arena e da CPC da UNE, apesar do vanguardismo e engajamento político, eram conservadores quando se tratava de estética cultural, ao ponto de promoverem passeatas contra o uso da guitarra elétrica na música brasileira. Foi o Tropicalismo que abriu as portas para a introdução de instrumental elétrico na música brasileira, sem perder a originalidade da música brasileira. Alguns podem até dizer que a “Jovem Guarda” foi a precursora desta ação. Mas a “Jovem Guarda” foi um movimento estético criado a partir de uma indústria cultural burguesa, que copiou em gênero, número e grau o estilo do “Twist” norte-americano, com uma intencionalidade política e o objetivo de atrair a classe média para um tipo de rebeldia despolitizada, que servia aos interesses da burguesia brasileira. Era apenas uma cópia midiática do The Beatles ou Elvis Presley, falavam gírias, usavam roupas de couro, andavam de motocicletas, todas as características da “juventude transviada” dos anos 50 do século XX. “Rebeldes, mas nem tanto assim”.

O movimento tinha como característica singular a fusão musical de vários estilos musicais criando uma nova musicalidade singular do Brasil, a fusão do samba, rock, tango, forró, música afro baiana. É a unidade entre a guitarra elétrica dos Mutantes, banda de rock and roll, com o berimbau típico da capoeira, dança e luta típica da Bahia e do Brasil. Destaque neste movimento para a participação de artistas da região sudeste do Brasil e até argentinos; três bandas vão se destacar no movimento tropicalista: os Mutantes, grupo composto por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, os dois últimos eram irmãos; os Beat Boys, composta por três argentinos e dois brasileiros. O Tropicalismo é, em minha opinião, o maior movimento estético musical da história do país, é uma opinião pessoal, gosto muito de outros movimentos estéticos da música popular brasileira, mas o Tropicalismo emoldurou a música brasileira desde seu surgimento. Ainda considero que o movimento tropicalista teve uma segunda fase, que se inicia com os Novos Baianos, que não estava no primeiro momento, mas quando despontou para o cenário musical e sociocultural do país mantém a linha de produção musical tropicalista. Volto a dizer: os Novos Baianos são, em minha opinião, o que de melhor surgiu, me referindo a bandas, no cenário da história da música mundial. Mas esta é uma questão pessoal, não deve ser objeto de debate.

Importante lembrar ainda da união que aconteceu em 1976 de quatro dos grandes nomes da música popular baiana, montada para fazer uma turnê pelo país em comemoração aos 10 anos de sucesso dos quatro artistas, Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano Veloso e Gilberto Gil, que formaram os “Doces Bárbaros” e fizeram vários shows pelo país, uma festa de talentos nos palcos brasileiros. Mas, voltando à questão da música baiana enquanto uma produção popular da Bahia, a década de 1970 também é marcante. Neste momento começa a emergir uma musicalidade típica para os carnavais de rua de Salvador e consequentemente de todo o estado. E nesta década prevaleceu o “frevo trieletrizado” de Armandinho e Trio Elétrico Dodô e Osmar, uma banda formada pela família de Osmar Macedo, um dos inventores do Trio Elétrico e da Guitarra Baiana, que junto com os filhos “se tornaram atração principal e se dá na Bahia o maior carnaval”, como afirma a canção composta e gravada pela própria banda.

Mas se engana quem acredita que o Trio Elétrico Dodô e Osmar tocava somente frevo nos carnavais de Salvador; era muito comum a banda Armandino e o Trio Elétrico Dodô e Osmar tocarem músicas clássicas, a exemplo do Bolero de Ravel, rock and roll com canções do Beatles e Rolling Stones, fusões musicais do frevo com ritmos caribenhos, afoxés e Ijexás. Ainda na década de 70, o Trio Elétrico Dodô e Osmar dividia amistosamente o protagonismo musical da festa com o Trio Tapajós e com o Trio dos Novos Baianos.

Uma questão que é muito importante destacar ainda na década de 70 do século XX é que cada bloco carnavalesco de trio elétrico tinha uma banda do bloco. O Bloco Pinel desfilava com a Banda Pinel, Bloco Cheiro de Amor desfilava com a Banda Cheiro de Amor, Bloco Beijo desfilava com a Banda Beijo, Bloco Tiete Vips tinha a Banda Tiete Vips e assim por diante. Esta organização permaneceu por todo os anos 80, com algumas exceções para Luiz Caldas, que era contratado por blocos, e Chiclete com Banana, que seguia a mesma linha. Bem, os anos 80 chegaram e com ele novidades na produção musical popular baiana. Inicialmente pelo surgimento de novos artistas, outros protagonistas nesta fábrica de talentos chamada Bahia. Entretanto, não há como deixar de atestar a forte influência de todos os Tropicalistas e do Trio Elétrico Dodô e Osmar nesta nova e talentosa safra de grandes artistas da Bahia.

Os primeiros movimentos desta nova geração tem início logo nos primeiros anos dos anos 80 com a transformação da antiga Banda Scorpius em Chiclete com Banana. A antiga banda de baile muda de nome e começa uma longa carreira musical na música popular baiana para o carnaval, isso em 1981 e em 1982; nestes dois primeiros álbuns é notória a influência de Armandinho e Trio Elétrico Dodô e Osmar. Em 1983, o Chiclete com Banana lança o disco Energia, com a música Mistério das Estrelas, a canção que finalmente deu um rosto peculiar ao Chiclete com Banana. Neste mesmo ano, os Novos Bárbaros lança o seu primeiro LP, como o Chiclete com Banana ainda sob forte influência de Armandinho e Trio Elétrico Dodô e Osmar, mas os Novos Bárbaros diferenciavam do Chiclete com Banana, pois sofria uma forte influência do movimento Tropicalista e dos Novos Baianos, ao menos nos dois primeiros discos. Ainda em 1983, o Bloco Papa Léguas contratou uma Banda Baile de Candeias para puxar o bloco na avenida, a Banda Mede in Bahia, por ser banda baile e não ter guitarra baiana tiveram de fazer diferente das bandas que animavam o carnaval de Salvador e levaram para o trio elétrico a diversidade musical de uma banda baile; esta banda tinha a regência de Ademar Furta Cor nos teclados e vocal de Zé Honório e mais dois vocalistas, uma cantora e outro cantor. Em 1984, Luiz Caldas e Banda Acordes Verdes lançam o primeiro Compacto Disco, trazendo uma influência do Trio Elétrico Dodô e Osmar, mas, em 1985, Luiz Caldas lança o primeiro LP, o disco Magia; neste disco Luiz faz sucesso com a música Fricote (Nega do Cabelo Duro), que já trouxe uma roupagem nova.

Luiz Caldas foi quem fundiu a música afro baiana, o Ijexá e o Afoxé e o Samba, com os ritmos caribenhos como o Merengue, Salsa, Rumba, criando um novo ritmo com o rosto da Bahia, o “Fricote”. Eu defendo sempre que esta é a contribuição de Luiz Caldas para a “música popular baiana”; não concordo com a afirmação de que Luiz Caldas é o “Pai do Axé Music”; há uma distância grande entre o trabalho, a música de Luiz para o que se costumou chamar de Axé Music pela grande mídia. Um fator que é preciso levar em consideração nos discos de todos os artistas da “Música Baiana” é a diversidade musical. Os discos geralmente lançavam a música de trabalho, que era sempre o Fricote, mas, no restante do disco, vinha recheados com Reggae, Frevos, Ijexás, Galopes e Pop Rock. Essa diversidade inclusive aparecia durante o carnaval; muitas vezes aconteceu de no meio da festa serem tocadas até “músicas lentas”, como chamávamos nos anos 80 do século passado.

Quero também deixar claro que afirmar que Luiz Caldas não é o pai do Axé não diminui em nada o tamanho do artista. Luiz Caldas é um gênio da música brasileira e mundial. Não tenho nenhuma dúvida de que Luiz Caldas está entre os gênios da música mundial, multi-instrumentista, arranjador, compositor, cantor, um dos maiores cantores de trio elétrico da música popular baiana. Até por ter tantas qualidades, acredito que colocá-lo como “Pai do Axé” reduz o seu tamanho como artista. Luiz é o cara que fundiu música clássica com o Afoxé, Samba com Reggae, Frevo com Ijexá, tudo isto é maior do que o Axé Music.

Mas, fiz um destaque em Luiz Caldas pela importância dele na construção de uma música popular baiana nos anos 80; de fato, foi ele quem teve a capacidade de condensar em um ritmo, em um estilo musical, toda a produção anterior à década de 1980. Mas ele não estava só nesta empreitada. É preciso destacar nomes que também contribuíram imensamente com a música baiana nos anos 80, e aqui vou citar alguns, embora saiba que certamente esquecerei de alguns, por isso já peço perdão aos leitores. Vamos lá, então: Gerônimo, Sarajane, Ademar Furta Cor, Carlos Pita, Jorge Taime, Marcionílio, Chiclete com Banana, Missinho, Carlos Neto, Zé Honório, Norberto, Carlinhos Caldas, Paulinho Caldas, Marquinho Caldas, Andréia Caldas, Virgílio, Buk Jones, Janete, Jaciara, primeira formação da Banda Mel, J. Morbeck, Edu Casa Nova, Zelito Miranda, Laurinha Arantes, Simone Moreno, Tânia Luz,  Margareth, Margareth Menezes, Silvinha Torres,  Lazzo Matumbi, Celso Bahia, Rei Zulu, Chocolate da Bahia, Ricardo Chaves, Asa de Águia, Marines, Julinho, Marquinhos e Banda Reflexus, Banda Papa Léguas, Márcia Freire e Caco, primeira formação da Banda Cheiro de Amor, Radamés, vocalista da primeira fase da Banda Beijo, Sérgio Barreiro, Jorge Zarath, Márcia Short, Robson e Alobêned Airam, da segunda formação da Banda Mel, Edson Gomes; quando surge a segunda formação da Banda Mel, a primeira formação cria a Banda Gente Brasileira, Índio e Val Valle, vocalistas da Banda Tiete Vips, Ivan Dias, Ivo Dias e Jeane, vocalistas da Banda Laranja Mecânica de Alagoinhas. Além destes artistas da nova geração, acrescente uma pitada da tradição carnavalesca baiana dos anos 70, Armandinho e Trio Elétrico Dodô e Osmar (Armandinho, André Betinho e Aroldo Macedo), Novos Baianos (com Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor, Didi Gomes, Jorginho Gomes, Luís Galvão, Dadi Carvalho, Odair Cabeça de Poeta, Charles Negrita e Bola Morais).

FÁBIO SENA: Mas e fora de Salvador também se produziu música…

JOÃO PAULO: Sim. Não podemos falar de música na Bahia sem fazer um recorte sobre região sudoeste e sul do estado, em especial a cidade de Vitória da Conquista, que tem um longo histórico musical. Desde os cantores e cantoras do rádio, artistas nos anos 50 que se apresentavam ao vivo na antiga Rádio Clube e na Rádio Regional de Vitória da Conquista. Mas, esta região sudoeste e sul foram grandes produtoras de bons artistas para a música popular baiana, principalmente tratando de bandas de baile. Em Jequié, podemos mencionar nos anos 80 do século passado a Banda Joedson e Rose e Banda; em Brumado a Banda Magnatas, em Vitória da Conquista, desde os anos 70 do século XX, uma grande quantidade de Bandas se destacaram na região: Banda Trepidantes, Banda Imborés, Banda Arco-Íris, Banda Geração, Banda Embalo 4, Banda Face Nova, Carlinhos Axé e Banda Odara, Banda Rastafári, Banda Voou, Banda Gula, Nagib e Banda, Soft Banda e Banda Vitrine, Banda Mixta e Banda Badaleira foram as de maiores destaques musicais, todas estas bandas tocavam bailes, mas também eram bandas de shows.

Em Itabuna, destaque para três grandes bandas nos anos 80: Banda Fase, Banda Vera Cruz e Banda Lordão (as duas últimas pertenciam à mesma empresa), sendo que a Banda Vera Cruz destinava seu trabalho mais para bailes e a Banda Lódão era mais uma banda de shows. Especificamente sobre Vitória da Conquista e regiões circunvizinhas, há uma características peculiar. A produção musical desta cidade estava muito mais voltada até os anos 80 para a musicalidade mineira do que para a musicalidade baiana. Era comum, acredito que muito em função de Elomar Figueira de Melo e Xangai, ter um diálogo musical constante com artistas mineiros; os artistas dos anos 80 se afinavam muito com músicos originários de Estado de Minas Gerais. Foi o fortalecimento da música baiana com o Fricote que aproximou Conquista da musicalidade soteropolitana.

Outro fator que devemos ressaltar sobre a música popular baiana é que, a partir do lançamento do segundo LP de Luiz Caldas, a última música do Lado B do disco, Reggae do Camaleão e Eu sou Negão lançadas em 1986, respectivamente por Luiz Caldas e por Gerônimo, o Samba Reggae passa a figurar nos Trios Elétricos. A música que era originalmente dos Blocos Afros, é bom destacar que cada um trazia sua própria batida, mas, no geral, tinha uma cadência do samba-reggae, ganha espaço na música popular baiana, sem confrontar com o frevo das guitarras de Armandinho e Pepeu Gomes, nem com o Fricote; a diversidade musical da Bahia prevalecia até o início da década de 1990 do século passado, mais precisamente até 1994.

Mas, voltando um pouco nesta história, foi ainda na década de 1980, no finalzinho desta década, que surge o Axé Music, o início do fim da música popular baiana. Eu costumo afirmar que o Axé Music nasce de fato com o lançamento da Banda Companhia Clic, que tinha como vocalista a cantora Daniela Mercury, isso em 1988, mas já houve um ensaio desta nova roupagem musical em 1987 com o lançamento do primeiro disco da Banda Asa de Águia, com o vocalista Durval Lelis. Esta turma desta geração vinha de bandas de garagem, produziam uma musicalidade próxima do pop rock do sudeste do país e passou a fundir o Fricote e o Samba-Reggae com o pop rock. Na realidade, mais uma jogada de marketing da indústria fonográfica. A música baiana havia atingindo o ápice em toda a Bahia, ganhado espaços também na mídia nacional, artistas como Luiz Caldas, Sarajane, Chiclete com Banana, Banda Reflexus tinham conquistado um espaço mediático, mas era preciso exportar a música baiana para o mercado nacional e internacional e é nesta perspectiva que nasce o Axé Music, que até 1994, 1995, ainda produzia música de qualidade. Nesta linha foram surgindo uma nova geração de bons artistas: Banda Beijo, com o vocal de Netinho, Banda Companhia Clic, com Daniela Mercury, Banda Jamil e Uma Noite, com Tuca e Mano Goes, Banda Patrulha, com Cátia Guima, Banda Pimenta Nativa, com Serginho no vocal, Banda Papa Léguas, com Mara Mel, Banda Araketu, com o vocal de Tatau, Banda Olodum, que têm várias gerações de vocalistas, incluindo Neguinho do Olodum, Jauperi, Pierre Onassis, Tonho Matéria entre outros. Banda Eva com Ivete Sangalo, Carlinhos Brown.

Surge o Axé Music, manteve certa qualidade musical até meados da década de 90 do século XX, com boas músicas, boas bandas, bons artistas. A partir de 94, 95, o Axé Music foi gradualmente se degenerando, gradualmente ganhando uma roupagem mais e muito mais comercial, até se tornar uma música pobre em harmonia, pobre em melodia, pobre em poesia e de arranjos simples. O objetivo era só colocar no mercado, vender por dois meses e descartar para por logo outra no lugar, para continuar movimentando o crescente mercado da indústria fonográfica.

O Axé Music em minha opinião submeteu a música baiana a uma perspectiva meramente de mercado. A afrobaianidade típica da música baiana, como expressão cultural do estado, como um símbolo cultural do povo baiano, foi transmutada como um objeto de atração para mercado. O que a indústria fonográfica fez com a música da Bahia foi arrancar suas raízes e a enxertaram-na em um caule em processo de apodrecimento, tirando-a a sua vida, o seu coração. Os resultados disto estão aí para todos verem: temos hoje uma musicalidade empobrecida, de um mau gosto sem precedente histórico, com artistas horríveis, salvo raras exceções como Saulo Fernandes e o Jau; todo o restante é lugar comum. Este empobrecimento abriu espaços para surgimento de uma musicalidade dantesca, que começou com tal de “pagode”, nos anos 90 do século passado, na esteira do “Gera Samba”, que cantava “samba de roda”, um estilo de samba típico da Bahia, mas foi transformado pela mídia, pela indústria fonográfica, em “pagode”; tudo que era samba passou a ser chamado de “pagode”, numa homogeneização burra. Depois do pagode piorou muito para tal “arrocha”, lodo do lixo musical baiano, depois fundiu o “pagode com arrocha” e passaram a chamar tudo de pagorrocha; por fim, e para minha imensa tristeza, toda música no Brasil virou “sertanejo universitário”.

Um grande amigo meu, músico, formado em música, me disse uma vez quando tocava numa banda de pagode de sucesso nacional: “se alguém conseguir piorar a música para além deste lixo que eu toco, eu vou chamar de gênio, pois é preciso ser muito bom pra piorar a música desta forma”. Então devo considerar que estes caras que estão fazendo sucesso hoje são gênios, pois, do pagode pra cá, a coisa piorou muito. Tenho uma ideia muito particular dos principais atores neste projeto de destruição da música popular da Bahia, mas prefiro somente apontar minhas críticas e meu desalento a respeito da música baiana em seu atual estágio, mas lembrar somente do que me contemplou como ouvinte, amante da música baiana.

FÁBIO SENA: Na sua visão de historiador e pesquisador, além de ouvinte apaixonado, seria possível elencar os atores anônimos desta expressão cultural que se consolidou no mercado nacional denominado Axé Music?

JOÃO PAULO: Nesta questão dos agentes anônimos gostaria de primeiro apontar como anônimos importantes para a produção da música baiana. E nesta perspectiva tenho que fazer referência ao povo baiano, tanto da capital quanto do interior. Sempre foi este povo, miscigenado, o motivo principal da musicalidade da Bahia. Se observarmos toda a produção musical baiana desde os primórdios mais remotos, foram o jeito, os costumes, as danças, a cultura, as tradições e o sofrimento deste povo temas principais para a produção musical da Bahia. Quanto a questão do Axé Music, só dá para apontar estes agentes nos reportando aos pensadores frankfurtianos, quando discutem a indústria cultural e a cultura de massas. Diferente da música baiana que é algo que nasce nos meios populares, cresce e ganha acento social, o Axé Music nasce primeiro nas cabeças dos produtores musicais, é lançado pela mídia e imposto ao povo em forma de uma mercadoria única, sem dá o direito às pessoas de fazerem escolhas. A cada carnaval uma nova melhor banda deste mês, uma nova melhor música desta semana, tudo imposto ao povo, que era obrigado a consumir aquele produto. E desta forma os vários estilos de Axé Music foram cristalizados no imaginário coletivo popular. Até não restar mais nada para inventarem e agora assistimos indignados funk carioca e sertanejo universitário tocando de cima de um trio elétrico, para uma massa a cada carnaval mais idiotizada e menos civilizada.

Um aspecto que deve ser levado em conta como anônimos que também pode ser lembrado aqui são uma quantidade de artistas que tiveram uma passagem meteórica pela música baiana ou pelo Axé Music, bandas ou artistas que fizeram sucesso com uma ou duas canções e desapareceram tão rápido quanto apareceram. Bandas como: Relógio, Futuca, Revelação, Fuzuê, Objeto, Brilho Latente, Transas Mil, Impressão Digital, Avatar, Pike, Pinel, Filhos de Gandhi, Joely, Rogério, Jô Santana, Margareth. Compositores que estouraram com algum hit e ficaram no anonimato, como Chocolate da Bahia, Rei Zulu, Celso Bahia. E a própria gravadora por onde passaram todos os bons artistas da Bahia desde 1975 os Estúdios WR. A história deste estúdio se confundi com a própria história da música baiana; quase todos ou todos os grandes artistas a partir da fundação do estúdio passaram pela gravadora.

FÁBIO SENA: É um fenômeno o fato de o mercado interno baiano consumir sua própria produção musical?

JOÃO PAULO: Até meados da década de 1990, de fato, era um fenômeno baiano o alto nível de consumo da música baiana dentro do próprio mercado baiano. Apesar de o Fricote de Luiz Caldas, Sarajane, Gerônimo e Novos Bárbaros já ter ganhado parte do mercado nacional e no caso de Luiz uma fração internacional. Com a geração do final dos anos 80 do século XX, definitivamente o mercado nacional é conquistado pelo Axé Music, ganhando destaque entre os mais vendidos e seguidos do país. Lembrar apenas que o Olodum gravou com Michael Jackson. Em meados da década de 1990, aí o sucesso de Ivete Sangalo transcende definitivamente fronteiras e o Axé Music, apesar de perder intensamente a qualidade artística cultural, ganha muito mais espaço no mercado fonográfico, até sucumbir definitivamente e se restringir a uns poucos nomes de real sucesso. Grandes artistas foram ficando pelo meio do caminho, com algumas aparições esporádicas na grande mídia. Mas, só os nomes com maior força no mercado sobrevivem.

FÁBIO SENA: Qual o tamanho de figuras como Luiz Caldas, Lazzo Matumbi, Carlinhos Brown, Sarajane, Daniela, Margareth… Para o Brasil?

JOÃO PAULO: Do ponto de vista de uma afirmação da cultura musical baiana estas figuras são gigantescas. Não há nenhum historiador que ao escrever sobre música na Bahia deixará de se referendar neste grupo de artistas, na realidade numa geração de grandes artistas, de grandes músicos, de grandes compositores da década de 1980. Lembrando e já mencionados acima não foram só estes, foram muitos mais. Esta geração pode até ser esquecida pelo senso comum e/ou por uma mudança geracional, certamente irá acontecer, gerações futuras não vão ouvir falar de alguns destes gigantes da geração de artistas oitentistas da Bahia. Mas, esta turma marcou a cena musical brasileira da mesma forma que os baianos de gerações anteriores. Suas contribuições serão também inesquecíveis para quem viveu o momento e para quem pesquisar sobre o momento. Para quem não ler cultura somente como entretenimento.

FÁBIO SENA? Onde foi que eles erraram pra sofrerem uma derrota tão prolongada para o sertanejo atual?

JOÃO PAULO: Não concebo a ideia dos artistas baianos da década de 80 do século XX terem cometidos erros não, assim como não considero erro nenhum artista perder o espaço mediático e terminar no ostracismo (mediático); faço este destaque porque esta turma toda continua fazendo seus trabalhos musicais. Sem o glamour dos grandes públicos é certo, mas, todos têm um público seleto e fiel. O grande problema é que vivemos numa sociedade de mercado, movida pelo consumismo e, de 1950 para cá, temos aí 70 anos em que as relações passaram a ser movidas por uma liquidez, por uma fluidez insuportável. O capitalismo coisificou a vida em todos os sentidos, tudo foi reedificado como mercadorias, a cultura, as tradições, as festas populares, a vida, o ser, tudo perdeu o sentido humanizador. E se determinado artista não cumprir a meta de vendas do seu trabalho musical, ele está fora do jogo. Nesta perspectiva, a indústria fonográfica foi fabricando o tipo de música que avaliavam como vendável, fabricando o padrão estético dos artistas e vendendo isto para o povo, e aqueles que não se enquadraram ou que não se enquadravam no padrão mediático ou que não atingiam as metas determinadas pela indústria de entretenimento foram deixados no meio da estrada. Esta é uma relação típica de um modelo de desenvolvimento econômico, político, social e cultural que alijou o ser humano de seu projeto, que enxerga o ser humano apenas como um produtor de lucro. Nesta perspectiva, não compreendo que algum artista tenha cometido erros, foram sacados do processo quando deixou de produzir lucro. É a mesma relação que a iniciativa privada têm com os trabalhadores de uma forma geral. O ser humano serve apenas enquanto produz renda para aqueles que detém o poder econômico.

FÁBIO SENA: Seu pai era um carnavalesco em tempo integral. Qual a importância dele na sua vida cultural?

JOÃO PAULO: Meu pai, José Cezar Pereira, o popular Zé Baticabo, foi quem me ensinou a ter uma referência cultural. Ele sempre deixou claro para mim a importância de valorizar a cultura nacional. Ele dizia sempre que fora do Brasil se produzia muita coisa boa, mas, que o Brasil também tinha uma produção cultural da melhor qualidade. Recordo-me que as duas expressões culturais que ele sempre utilizava eram a música e o futebol, duas das paixões dele, e símbolo da paixão que ele expressava pela vida. Era um apaixonado pelo samba, por todos os estilos de samba, do samba de roda ao samba-enredo, transversalizando com o partido alto, samba-canção, samba-de-roda, pagode.

Dele herdei o bom gosto musical e muito do que penso sobre futebol. Na música, a defesa da boa música e a intransigência em relação à música de qualidade ruim. No futebol, o amor pela arte do futebol, meu pai era daqueles que assistia a uma partida para ver o drible bonito, o toque de bola inteligente e rebuscado, torcedor do Vasco, não hesitou torcer pelo Flamengo no título mundial de 1981, reconhecendo o belo futebol do clube rival naquele ano. Amante do samba, cantava quase todos e muito bem. Meu pai era um cantor muito bom, voz grave, bem no estilo dos cantores da década de 50 do século XX, tocava um pouco de sanfona, arranhava, mas sabia algumas notas, aprendidas de ouvido, foi quem me despertou para a musicalidade.

Tinha algo muito legal em painho: ele não tinha preconceito com o novo, viveu até o ano de 1983 e ouvia músicas da época, desde que fossem boas canções. Tinha ojeriza a Amado Batista, mas, ouvia tranquilamente Lulu Santos. Me recordo de em 1982 ele me perguntar sobre a música Tesouros da Juventude. Lembro-me dele chegar em casa com o disco, com esta música para presentear minha irmã. Lembro que ele comprou na Atacadisco o LP Caribian Disco Show, um LP de discoteca (discomusic) de um cantor chamado LOBO, que tanto eu quanto minha irmã adoramos a música do Lado A, tenho até hoje em minha lista de música no celular, é uma coletânea de canções antigas, em ritmo de discoteca. Eu ouvir muita música com o finado Zé Baticabo e também aprendi a dançar com ele; nos ensinou a dançar valsa, bolero, samba, twist, fox, rumba. Isto me deu o compasso certo, afinou meus ouvidos. Também foi meu primeiro professor de canto, pois, se preocupava a trabalhar a respiração na hora de cantar, como usar o “fôlego quando cantar”, como ele sempre dizia para mim e para minha irmã. Posso afirmar tranquilamente que conheci a música com meu pai. Hoje ainda tenho muito dele na minha forma de gostar e ouvir música.

FÁBIO SENA: Por fim, João Paulo, pra encerrar nossa conversa, fique à vontade para falar sobre o que não perguntei rsrss.

JOÃO PAULO: Tenho uma visão bem definida sobre a utilização da música como ferramenta de dominação e alienação das massas. Assim como o Pop rock do Sudeste do país que, a partir de 1986, adquiriu um caráter político e de classe, principalmente com as bandas de São Paulo e Brasília, que vêm do Punk Rock e do Pós-Punk e passou a influenciar a juventude a se posicionar à esquerda no processo político. A música baiana também o fez mais voltado para a defesa do fim do racismo no país, os artistas baianos passaram a discutir questões sociais em suas composições e valorizar a história África/Brasil. Muito do movimento negro na Bahia passa a ser percebido a partir das composições dos artistas baianos. Ao mesmo tempo em que passam a discutir os problemas sociais vivenciados pela população pobre do país. Canções como “Eu Sou Negão”, músicas do Olodum, da Banda Reflexus, Banda Mel, Edson Gomes, Lazzo Matumbi, Missinho, sempre traziam em suas composições os problemas vividos pela população pobre e negra na Bahia e no Brasil. O advento do Axé Music, assim como a Música Sertaneja, cumpre o papel de despolitizar a música baiana e brasileira, criando uma musicalidade homogênea e com a função de alienar parte da juventude, sobretudo a juventude de classe média, que passa a compreender a música somente como entretenimento, destituída de qualquer compromisso social, suprimindo qualquer tipo de “arte engajada”. Este processo construiu o que temos hoje como música na Bahia e no Brasil, uma musicalidade pauperizada em toda sua dinâmica, arranjos, poesia, melodias, harmonias. Algo totalmente descartável, um produto produzido em escala fordista, para consumo rápido e descarte mais rápido ainda. Artistas de carreiras meteóricas, com duração de dois ou três anos no máximo, que perdem a condição de artistas e passam a ser uma mercadoria que será consumida durante algum tempo e desaparecerá para sempre.



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Publicado originalmente em 07/07/2020, em Blog do Fabio Sena.

[2012] Canto somente o que não pode mais se calar - O Rebucetê Entrevista: Ramanaia

Ramanaia/ Foto: Luiza Audaz

Por Mariana Kaoos
Logo quando vim morar aqui na cidade de Vitória da Conquista, em 2003, sempre observava pelas ruas inúmeras pessoas vestidas com uma blusa preta com a foto de Janis Joplin estampada e logo acima, em vermelho, os escritos “Agosto de Rock”*. Essas pessoas, em sua maioria, tinham outros traços em comum. Usavam tênis all star, fumavam cigarro, eram cabeludos, transitavam por lugares como a “praça da normal” **, o bar Paraki, a “rinha de galo” onde se jogava sinuca e o bar Encontro que na época vendia uma cachaça chamada Cearense a R$1,00. Essas pessoas, muitas vezes, tinham em comum o mesmo gosto musical e compunham o então chamado cenário alternativo da cidade.

Festivais de música alternativa (agregando o rock, reggae, música eletrônica) como o Fest Rock, Agosto de Rock e Rock Vertente aconteciam com certa frequência na cidade. Aos domingos, também era comum encontrar milhares de pessoas reunidas na porta da concha acústica do Centro de Cultura esperando os seguranças abrirem as grades para os shows que sempre aconteciam por lá. Bandas como Sorrow's Embrace, Paralips, Ardefeto, Ganga Zumba, Adarrum, Seres do Reggae, 0800, eram grandes conhecidas na cidade. Explosões de produções artísticas eram constante também em outros segmentos como o teatro. Conquista fervia. A cultura local era consumida dentro da própria cidade e o cenário alternativo, entre trancos e barrancos, parecia sobreviver de si mesmo e do seu público.

Os anos se passaram, os espaços que sediavam esses shows foram fechando e, os ainda existentes se tornando cada vez mais precários. Os músicos que tocavam nas bandas locais precisaram procurar outras formas de sobrevivência, trabalhando fora e tendo menos tempo para o som. Várias bandas acabaram, festivais alternativos cessaram e por certo tempo, o cenário pareceu estar morto.

Em janeiro de 2010, surgiu então o Coletivo Suíça Baiana, atrelado a rede Fora do Eixo, que existe em todo o Brasil. Com o intuito de oferecer opções culturais dentro da cidade, o Suíça vem promovendo desde então alguns festivais, bem como noites fora do eixo, que acontecem nas quintas e sextas feiras, no Viela Sebo Café. Nessa ultima sexta, 17 de agosto, foi a vez das bandas Scambo e Ramanaia se apresentarem.

Sobrevivendo ao longo de seis anos em meio a todas as dificuldades que Conquista vem oferecendo, a banda Ramanaia, composta pelos músicos mais conhecidos como Marcelão, Moura Brown, Melch, Uiá e Felipão, oferece ao publico um som autoral como tambem novas versões de artistas como Bob Marley, Luiz Melodia e S.O.J.A. Em entrevista para O Rebucetê, os meninos falaram um pouco das dificuldades de se manterem sobrevivendo artisticamente e de politicas publicas voltadas para a cultura. Confiram.

Mariana Kaoos: Sabe-se que Vitória da Conquista sempre teve um cenário alternativo muito intenso mas que isso vem morrendo de alguns anos para cá. Queria que vocês traçassem um panorama desse cenário, já que estão inseridos nele há mais ou menos dez anos.

Ramanaia/ Foto: Luiza Audaz

Felipe: Aqui em Vitória da Conquista temos “o cenário alternativo” que começou no final da década de 90 com o “Agosto de Rock*”. Naquela época as bandas eram muitas e o público acompanhava todos os shows. De repente o rock subiu, chegou no estopim e deu uma defasada. Foi quando iniciou-se o período do xote-reggae. As mesmas bandas de rock começaram a formar outras bandas. Em seguida veio apenas o reggae com as bandas Impisa Roots, Ganga Zumba, Malanas, Adarrum, Seres do Reggae, etc. Tivemos umas seis bandas e todas acabaram. Logo depois veio a cena rave ainda do mesmo grupo. Quem curtiu o rock, o xote reggae, o reggae, foi pra curtir a rave. A policia federal veio, deu uma pegada por conta das drogas. Então acabou-se a rave e ficou um buraco por um tempo. Por fim, veio o ragga, que é o que vem tomando as noites conquistenses. Os meninos do Complexo Ragga e todos os outros mc’s tem feito um trabalho muito bom e acho que o Ramanaia entra ai também, porque na verdade nós não morremos. Das bandas antigas, as únicas que permaneceram ao longo desse tempo todo foi a Cinco Contra Um, Cama de Jornal e a gente, só que com outro nome. A cena alternativa na cidade hoje está fraca, precária. Você toca no viela porque é o único lugar que temos no momento, mas acabou. O cenário alternativo de Conquista é tão fraco que se resume ao Fora do Eixo, que nem é mais tão alternativo assim. Eles viraram completamente comerciais e pouco limitados. A cena alternativa de conquista acabou. Só o som continua alternativo e olhe lá.

Marcelão: Existe a questão de apoio e tudo mais. O termo “alternativo” sugere que é o que anda com as próprias pernas, é a cena que não tem apoio, que está paralela a cultura de massa, dos eventos de massa com apoio financeiro e etc. Há dois ou três anos, existiam espaços que eram cedidos para a cultura alternativa. Hoje, todos esses espaços fecharam.

Mariana Kaoos: Como a Ramanaia faz pra sobreviver aqui e difundir a cultura do reggae na cidade?

Marcelão: Acredito que em nós existe muito presente a questão da amizade. Convivemos há anos, isso faz com que a gente sobreviva. Investimos na banda, mesmo que não seja grande, há um investimento que tiramos do nosso bolso. A gente sobrevive por conta do gostar, do querer, da nossa vontade. E a resposta do público também contribui, a gente vê que o pessoal gosta e isso nos estimula a seguir em frente mesmo com todas essas dificuldades de espaço, investimento e etc.

Felipão: Quando você pergunta como a Ramanaia faz para sobreviver, a resposta é básica e simples: não sobrevive. A gente não sobrevive de musica. A Ramanaia está tocando pela primeira vez esse ano em Conquista, dia 17 de agosto, com Scambo. Uma banda que era para estar tocando aqui uma vez ao mês pelo menos. É questão de espaço mesmo. A Ramanaia poderia tocar no viela, mas olha a concorrência para tocar aqui. Todas as bandas de Conquista tem que tocar aqui porque não tem mais lugar. Não é mais uma opção tocar aqui, é a única. A gente sempre vai tocar porque gostamos. Está mais do que claro em nossa mente que pode passar 30 anos e estaremos tocando. Se um dia a banda der certo e entrar mesmo no mercado, ótimo! Largamos tudo pra sobreviver disso, se não, fico feliz também por aqui.

Mariana Kaoos: Esse ano é um ano eleitoral e tempo de reflexões a respeito das políticas da cidade. Vocês enquanto artistas acreditam que o que é necessário para se implantar dentro das políticas publicas para cultura?

Uiá: Eu acho que a gente precisa primeiro descentralizar. Há muito tempo não existe interior, a questão da hierarquia urbana tem que cair por terra. Primeiramente descentralizar as politicas públicas. A Funceb, que são os fomentadores da cultura na Bahia, centraliza muito a cultura a partir de Salvador. Isso é questão histórica, secular. Desde as capitanias da Bahia, tudo o que está em torno dela, o que é interior, depende dela. Desde o sec XVIII e reflete até hoje. A maioria do fomento vai pra capital, isso é a primeira coisa que precisa se quebrar. É preciso fazer o poder público entender que o interior também produz cultura e depende de nós cobrar, ocupar espaços. Politicamente não existem espaços vazios, existem espaços que devem ser ocupados. Aqui em Vitória da Conquista já tem uma iniciativa boa que é o Suíça Bahiana, o Fora do Eixo. Os meninos estavam falando que é uma questão capitalista, mas pra além disso é um núcleo de ocupação de espaço, de ver os projetos, pleitear e acabou. Não importa se esses projetos são feitos num ambiente que da pra 100, 300 pessoas, se é cobrado 20 reais pra entrar. Não é a historia que eu queria ver, mas há dez anos a gente não tinha essa abertura. Ninguém pensava em pleitear um projeto na Funceb, em pedir financiamento da Conexão Vivo ou qualquer empresa que seja. O que importa é a iniciativa, é uma coisa que pra mim é básica, fundamental e tem mudado aos pouquinhos. A gente também tem que conseguir dar continuidade a isso, sobreviver. A nossa conversa foi em torno da sobrevivência e não da existência. Existir a gente vai existir sempre, é uma questão natural das coisas, mas a gente tem que conseguir permanecer. Estávamos há mais de seis meses sem ensaiar e eu vim e Felipe também por uma questão de sobrevivência no espaço. É isso que temos que pensar, temos essa possibilidade, é viável.

Mariana Kaoos: Além de músicos vocês são artistas que influenciam na cultura de Vitória da Conquista. O que vocês, enquanto tais, pretendem fazer para que o cenário alternativo sobreviva na cidade?

Felipão: É complicado falar assim porque é a coisa da formiguinha, de cada um fazer sua parte. É pouco, mas é isso por enquanto, não desaparecer, continuar existindo, tocando, fazer o que for possível e expandir. A gente tinha um objetivo grande de sair da Bahia esse ano, tentar outros mercados pra ver ate que ponto a gente consegue ir. E temos a convicção plena de que quando uma banda daqui alavancar, todas as outras também sobem. Achei que isso fosse acontecer com Antonio Brother. Não é querer pongar em ninguém, é subir todo mundo junto. O olhar do povo muda, do público, do empresário, dos investidores.

Marcelão: Não adianta fazer trabalho individual. Tem que ser partes integradas, elas que vão formar um todo muito maior. Tem tantas potencialidades aqui em Conquista, tanto no Blues, como no Reggae, Rock, Ragga, Chorinho. Eu vejo uma riqueza enorme aqui dentro, mas falta essas partes se integrarem pra subir, junto a gente vai muito mais LONGE. O pessoal do Blues faz um ótimo trabalho, mas essa junção é precisa. Faltam projetos que fortaleçam isso. A qualidade é demais. Tem o Distintivo Blues também com um som muito bom, muita gente aqui com trabalhos autorais incríveis. Tem que expandir, não ser só Conquista, mas a região sudoeste como um todo. Eu vejo o Fora do Eixo como positivo, importante, mas não era SÓ isso que eu queria ver, mas eu vejo sim com bons olhos, ate porque é melhor acontecer alguma coisa do que não acontecer nada. Mas eles ainda limitam essa busca, dá pra ampliar. Essa coisa, integrar, isso é importante. Por exemplo, a gente poderia produzir um belo DVD das riquezas musicais de conquista com seus estilos diferenciados. Mas não existe isso. Um pensa, outro com certeza está pensando também, mas falta chegar e fazer um projeto e correr atrás. Os empresários tem grana para investir, falta realmente ideias que se unam e não sejam projetos só para valorizar determinado grupo, mas a cultura como um todo.

*Festival de banda alternativa que teve três edições na cidade.
**Praça Guadalajara


COMENTÁRIOS (até 01/05/2020)


Fiz algumas reflexões em cima do que foi levantado por Mariana Kaoos e pelos integrantes da banda:

1)"A cena de Vitória da Conquista está morrendo"

Qual cena está morta? Vejo bandas gravando seus EP's e álbuns, fazendo tournê pelo Nordeste e pelo Brasil. Bandas que correm atrás, que circulam, que tocam na cidade e na região e não ficam senta esperando uma cena ideal se configurar. Como disse Rogério Big Bross pra esse mesmo blog: "Banda que não circula,não forma público".

No entanto, concordo que o espaço físico para shows seja escasso, o Viela não é suficiente, nem pro público (antes pequeno) que procura uma alternativa diferente. Isso dificulta a circulação da banda dentro da própria cidade, a formação de público local fica comprometida. Mas o fato de ter fila de bandas para tocar no bar só nos mostra que existe uma cena muito forte sim.

2) "Alternativa é a cena que não tem apoio"
Porque quando entra grana a coisa é sempre demonizada? Deixa-se de ser alternativo quando
o dinheiro começa a entrar e circular na cena? Apoios culturais e inscrições em editais descaracterizam o perfil da banda/coletivo/circuito?

E outra, festivais gratuítos ou com preços acessíveis acontecendo a todo momento em Vitória da Conquista, como o da Juventude, Grito Rock, Rock Cordel (os que abraçaram a produção local só nesse ano).

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Publicado originalmente em 21/08/2012, em O Rebucetê.

[2006] Entrevista com a March of Revenge

Franck(Baixo), Diego(bateria),Thiago(guitarra),Maurício(guitarra),Igo(vocal)

1. Como e quando surgiu a banda? 

Sempre falávamos em formar uma banda. Daí decidimos aprender a tocar. Isso faz uns três anos. Franck e Thiago fizeram uma banda, Diego tocava em outra, Maurício em outra e Igo em outra. Descobrimos que fazer uma banda é muito mais difícil do que pensávamos, então essas bandas foram se desfazendo e nos juntamos no início deste ano.

2. Quais as influências que vocês carregam e qual o estilo da banda?

Vão desde Hard Rock até o metal mais Pesado: Curtimos Black e Trash Metal, Hard Rock dos anos 80, como Iron Maiden, e muitos outros: Slayer, Sepultura, Dorsal. Nosso estilo é o Trash Metal, mais especificamente o europeu.

3. Vocês já têm alguma música própria?

Temos uma música quase pronta, com letra em inglês. É muito difícil para nós, que não podemos ensaiar muito, Gastar muito tempo ensaiando nossa música, já que também precisamos ensaiar os covers. Estamos tentando adquirir mais equipamentos e montar nosso próprio estúdio para podermos trabalhar mais no nosso próprio trabalho.

4. Qual a opinião de vocês sobre o cenário alternativo conquistense?

Só pra começar, o nome da banda, March for Revenge(marcha para a vingança), surgiu exatamente disso: sempre achamos que aqui há um grande desrespeito com as bandas e o próprio público: Conquista se resume a uns três “produtores” de shows, que não pagam cachê, não colocam um som de boa qualidade, não têm pontualidade na hora de começar os eventos, tampouco um mínimo de profissionalismo. Pelo que ouvimos falar de cenários menores, como Itabuna e Ilhéus, por exemplo, notamos que pelo menos os produtores são mais sérios e as bandas não costumam sair perdendo quando se apresentam, como aqui. Então, diante de tantos problemas ainda aparecem aqueles que pensam que são críticos de música para só falarem mal das bandas sem ao menos terem idéia do quanto é difícil ter uma banda alternativa aqui. A mídia simplesmente ignora a existência do nosso cenário e o próprio público não comparece aos shows, embora esteja sempre reclamando que aqui não acontece nada.

5. Qual o telefone de contato para shows?

(77) 3084-0698, falar com Igor Thiago. Agradecemos o espaço e esperamos a presença de todos no próximo show.

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Entrevista publicada originalmente em 3/8/2006, em site ignorado até o momento.

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